Qual a importância do dinheiro em espécie?

Banco24Horas
29/01/2022 21 min de leitura

Bitcoins e outras moedas digitais, pagamentos por aproximação e QR Code, transações digitais... Esse é o cenário econômico da atualidade.

Mas e o dinheiro em espécie? Que função ele desempenha hoje em nossa sociedade? Faremos um apanhado sobre o papel moeda, falando inclusive sobre a evolução do dinheiro, as vantagens do dinheiro tradicional e os meios de pagamento mais usados na atualidade. Confira tudo a seguir!

A evolução do dinheiro

Primeiramente, o dinheiro apareceu na forma de moedas de ouro e prata. Com o tempo, passou a ser cunhado em metais menos nobres, mas mais fáceis de encontrar. A necessidade de guardar as moedas deu origem aos bancos na Idade Média. Os grandes negociantes de ouro e prata, os banqueiros da época, que tinham cofres e soldados a seu serviço, se prontificaram a cuidar do dinheiro dos clientes.

A palavra “bank” deriva do italiano “banco”. Isso mesmo! Estamos falando de bancos de sentar: o banco era um objeto de madeira que os negociantes da Itália atuantes em Londres usavam para realizar negócios na cidade.

Para confirmar a quantia que lhes era entregue pelos clientes, os banqueiros davam recibos em que estava registrado o número de moedas guardadas (por exemplo, 10 moedas de ouro). Os recibos se chamavam, em inglês, “goldsmith’s notes”, ou seja, “notas de ourives”. 

Por questões de segurança, as pessoas passaram a dar preferência ao porte desses recibos que ao porte das moedas. E, assim, tornou-se possível fazer o pagamento com esses recibos — e nasceu o dinheiro em espécie. 

Resumo da evolução do dinheiro

Podemos, assim, dividir a evolução do dinheiro em:

  • moedas de ouro e prata;

  • moedas de metais e ligas menos nobres;

  • recibos ou notas de ourives lastreadas em ouro (as notas eram trocadas pela quantidade de ouro equivalente);

  • papel-moeda ou moedas fiduciárias (baseadas na confiança do povo com o governo);

  • moedas digitais (bitcoin, litecoin, binance coin, ethereum, ripple).

As moedas fiduciárias são qualquer documento ou título que pode ser utilizado como meio de pagamento: Dólar, Euro, Real, Iene, Libra.

Resumo da evolução dos métodos de pagamento

Quanto à evolução das formas de pagamento, podemos falar em:

  • escambo;

  • dinheiro (moeda, papel, digital);

  • cheque, nota promissória, vale;

  • depósito bancário;

  • transferência bancária convencional;

  • cartão de crédito/débito;

  • transferência PIX;

  • aplicativos (reúnem diferentes formas de pagamento). 

A emissão de papel-moeda

Naturalmente, a impressão só se tornou possível após a invenção da imprensa por Gutenberg no século XV, em torno de 1430. Antes, os recibos tinham confecção manual. 

Emissão em larga escala pelos bancos oficiais

A impressão de cédulas em grande escala começou com a oficialização dos bancos. Os primeiros bancos com reconhecimento oficial apareceram respectivamente:

  • na Suécia, no ano de 1656;

  • na Inglaterra, em 1694;

  • na França, em 1700;

  • no Brasil, em 1808 (durante a estadia da família real portuguesa no Brasil).

Foram os bancos que se responsabilizaram pela emissão de papel-moeda, que era chamada também de “bilhete de banco”. 

Regulamentação e controle

A emissão do papel-moeda é regulamentada pelo Estado em qualquer país. A centralização contribui para proteger os interesses monetários das nações e impedir falsificações. O processo de produção das cédulas e das moedas é rigorosamente controlado para que seja possível assegurar integridade máxima. 

Porém, com as moedas digitais, a centralização estatal está sendo rompida, ou seja, o Estado não intervém nas transações comerciais.

Fedrigoni, fornecedora de matéria-prima

Boa parte das moedas fiduciárias da América Latina utiliza matéria-prima da Fedrigoni, uma fornecedora sediada na cidade de São Paulo. Ao chegar o papel, a casa da moeda o submete a um processo que contempla muitas medidas para avaliar a durabilidade, além de camadas de tinta.

Vida útil 

É importante que a vida útil das cédulas seja alta. Por se tratar de papel, as cédulas podem ser facilmente rasgadas e amassadas, o que acaba comprometendo sua validade. 

Em 2000, para comemorar os 500 anos de descobrimento do Brasil, foi criada a nota de R$10,00 em plástico, mais resistente e durável. 

Segurança

Entre os elementos de segurança presentes na cédula, estão:

  • alto relevo;

  • marca d’água;

  • micro impressões.

Emissão no Brasil

No Brasil, as primeiras notas foram emitidas pelo Banco do Brasil em 1810. O valor, contudo, era preenchido manualmente, como os cheques de hoje. 

A impressão de dinheiro em espécie ocorre na casa da moeda a pedido do Banco Central do Brasil. Esse banco analisa antes de definir qual é a quantidade de cédulas que serão fabricadas. Esse controle é necessário porque muito dinheiro circulando tende a provocar a desvalorização da moeda e o aumento da inflação. 

O dinheiro em espécie em nosso país apresenta a efígie da República em um lado e, no outro, animais da fauna nacional: 

  • R$2,00: tartaruga-pente;

  • R$5,00: garça;

  • R$10,00: arara;

  • R$20,00: mico-leão-dourado;

  • R$50,00: onça-pintada;

  • R$100,00: peixe garoupa;

  • R$200,00: lobo-guará.

As moedas, por sua vez, retratam algumas personalidades, como:

  • R$0,01: Pedro Álvares Cabral;

  • R$0,05: Tiradentes (José Joaquim da Silva Xavier);

  • R$0,10: Dom Pedro I;

  • R$0,25: Marechal Deodoro da Fonseca;

  • R$0,50: José Maria da Silva Paranhos Júnior (Barão do Rio Branco).

Até 2005, era fabricada a nota de R$1,00, que tinha a imagem do beija-flor. Mas ela foi trocada pela moeda de R$1,00 com a efígie da República. 

O rosto da República nas cédulas e moedas brasileiras foi inspirada na imagem da Liberdade, personificada em uma mulher guiando o povo francês, na pintura de Eugène Delacroix. A República está, portanto, associada à Liberdade.

A entrada do papel-moeda na economia

A principal característica do papel-moeda é a ausência de lastro. Nesse sentido, ele não tem rastro em nenhum objeto ou metal (ouro, prata). Não existe nenhum valor intrínseco. 

A disseminação do dinheiro em espécie

Cronologicamente, o papel moeda apareceu, pela primeira vez, na China, durante a dinastia Song, entre os anos 960 a 1279. Nos países ocidentais, o primeiro papel-moeda foi projetado por um empreendedor da Estônia, Johan Palmstruch. Ele projetou a moeda em 1661 e, a partir de então, as cédulas penetraram no Ocidente em geral. 

As moedas fiduciárias só passaram a se popularizar realmente após a Primeira Guerra Mundial. Atualmente, as três moedas mais poderosas são Dólar, Euro e Iene.

Os pilares do papel-moeda 

O valor da moeda fiduciária esta sustentada em três pilares:

  • autoridade: um dos principais fatores para definir o valor de uma moeda é a autoridade do governo; por isso, apenas o Banco Central do Brasil faz a emissão de dinheiro (a autoridade está centralizada no governo);

  • utilização: quanto mais pessoas utilizam o dinheiro em papel, o valor aumenta porque fica creditada por várias pessoas e instituições (isso mostra que o uso da moeda ajuda a deixá-la mais forte);

  • confiança: outro pilar é a confiança das pessoas, que faz com que a moeda fique mais forte; em nosso país, o Banco Central do Brasil se responsabiliza por política monetária e controle da inflação (para que a população permaneça confiante no Real, o Bacen deve conservar a estabilidade da moeda por meio de políticas monetárias). 

Em relação ao segundo ponto, temos nele a explicação pela qual o Dólar é uma das moedas mais fortes do mundo, já que ele tem aceitação em diferentes países. 

Papel-moeda na economia brasileira 

Em nosso país, as moedas de prata e ouro nortearam as transações comerciais até o século XVII. No século XVIII, a utilização das moedas não foi suficiente dada a sua pouca disponibilidade. 

Quando a família real aportou no Brasil, a modernização do sistema monetário tornou-se necessária. O então imperador de Portugal, Dom João VI, criou o Banco do Brasil, que se tornou o emissor das cédulas. Era preciso considerar o volume de ouro existente nos cofres públicos para emitir dinheiro em espécie

Quando D. João VI deixou o país, começou uma crise na economia. Ao retornar a Portugal, o imperador tinha explorado as reservas de ouro que estavam disponíveis em nosso território. Consequentemente, o dinheiro em papel passou por um processo de desvalorização, a inflação aumentou muito, ocorreram várias revoltas que se estenderam pelo Primeiro Reinado e alcançaram o Período Regencial. 

No Segundo Reinado, a produção de café melhorou. Por outro lado, os empréstimos internacionais e a exportação no setor do agronegócio levaram a um processo sistemático de desvalorização das cédulas. 

Gradualmente, o papel-moeda foi modernizando. No começo, a fabricação era em molde de cartas e o preenchimento era feito à mão. Esse método de preenchimento facilitava as falsificações. Mas, com a modernização, ficou mais difícil recorrer às falsificações — as cédulas passaram a ser impressas e foram recebendo mais e mais detalhes que aumentavam a segurança.

As vantagens do dinheiro em espécie para a economia e a sociedade

Levando em conta a variedade nas formas de pagamento, inclusive as digitais, uma pergunta pertinente é: será que o dinheiro físico ainda oferece vantagens para a economia e para a sociedade? Vejamos:

Poder de negociação

Não importa qual seja o serviço ou o produto, quando o pagamento é feito com dinheiro em espécie, a barganha (pechincha) fica facilitada. 

O potencial comprador pode obter descontos mais vantajosos e, assim, economizar um valor relevante de dinheiro. 

A empresa que está vendendo não precisa aguardar para que a administradora de cartão repasse o pagamento. Ela recebe o valor completo, não precisa assumir nenhuma taxa de operação. Enfim, o varejista consegue uma margem maior para definir a precificação dos itens e oferecer descontos mais efetivos ao público.

Controle dos gastos

A utilização de dinheiro físico ajuda na manutenção dos gastos. O motivo é óbvio: o consumidor está vendo as cédulas minguarem, saírem de seu poder para a posse de outra pessoa. 

Os pagamentos no cartão não oferecem essa vantagem. Os gastos vão se acumulando e quando o consumidor abre os olhos, já está bastante endividado. Isso é uma realidade principalmente quando o titular tem um limite de crédito muito alto. 

Por isso, os especialistas em educação financeira costumam recomendar as compras à vista, com dinheiro em espécie. As compras no cartão devem ser mais específicas, envolvendo valores muito altos e quando, realmente, o pagamento à vista com papel-moeda não é possível. 

Minimização de imprevistos

Apesar da facilidade proporcionada pelas novas formas de pagamento, o dinheiro físico pode apresentar vantagens em relação a eles. 

Considere, por exemplo, um consumidor que encontra uma mercadoria da qual precisa com urgência e considere também que ela está com um preço ótimo. Porém, a maquininha está fora de sistema ou o estabelecimento não aceita essa modalidade de pagamento. 

Considere outros exemplos. O cartão de transporte falha em um ônibus, um metrô ou um trem. O cartão de alimentação não funciona no supermercado. Isso pode ocorrer porque estamos lidando com tecnologia e eletrônicos e a ocorrência de problemas técnicos é uma possibilidade. 

Nesse caso, o dinheiro vivo certamente é um grande diferencial — é uma forma de pagamento que todo varejista aceita. 

Os meios de pagamento mais utilizados atualmente

Certamente, o PIX se tornou muito popular entre os consumidores brasileiros. Mas talvez você não saiba que, mesmo com essa forma prática de pagamento, 53,4% dos brasileiros preferem o pagamento com papel-moeda

Preferência pelo dinheiro em espécie

Isso foi o que constatou a Fundação Dom Cabral (FDC) em sua pesquisa, na qual contou com ajuda da Brinks, empresa de transporte de valores. A pesquisa envolveu dois mil brasileiros, tendo durado de 20 de julho a 13 de agosto de 2021. 

As razões para preferir dinheiro em espécie são:

  • controle de gastos: 26,0%;

  • facilidade: 22,4%;

  • segurança: 11,1%;

  • não gastar o dinheiro que não têm: 5,3%.

Mas por que citar a segurança e a facilidade como motivos para preferir o pagamento em dinheiro em espécie? Costuma-se afirmar justamente o contrário: é bem mais fácil fazer um PIX e é bem mais seguro usar o ambiente digital que andar com dinheiro pelas ruas. 

Conforme explica o professor Fábio Salum, responsável pela pesquisa: “As pessoas têm receio de que o meio de pagamento não funcione por falhas na conexão ou no celular...”. Em boa parte do país, ainda existe internet com infraestrutura precária e nem todas as pessoas podem acessar equipamentos melhores e mais confiáveis. 

Pessoas sem conta em banco

Ainda existem muitas pessoas que não têm conta em banco: 38,5%, assim divididas, conforme o sexo:

  • homens: 33,2%;

  • mulheres: 43,4%.

Em relação às regiões:

  • Região Nordeste apresenta o maior percentual de pessoas não-bancarizadas: 47,1%;

  • Região Sul apresenta o menor percentual de consumidores sem conta em banco: 27,7%.

Preferência por outras formas de pagamento

Veja outras formas de pagamento identificadas na pesquisa:

  • cartão de crédito: 20%;

  • cartão de débito: 16,5%;

  • boleto bancário: 4,6%.

E quanto ao PIX? 

A pesquisa revelou que 49,2% já utilizaram, ao menos uma vez, essa inovação. Mas somente 3,5% dão preferência a essa forma de pagamento. 

Futuro do dinheiro em espécie

A pesquisa da Fundação Dom Cabral e da Brinks foi mais longe. Procurou saber o que a população pretendia fazer em relação às formas de pagamento, ou seja, analisou o futuro da moeda fiduciária diante da digitalização. Os resultados mostraram que:

  • 44,7% diminuirão seu uso, mas não o abandonarão;

  • os jovens mostraram uma tendência maior em adotar meios de pagamento diferentes: Geração Z, 43,2%; Geração Y: 27,9% (são os jovens os consumidores que mais utilizam PIX);

  • a maior parte das pessoas idosas continuarão utilizando o papel-moeda: 81,1%.

Pandemia e papel-moeda

Melhor que ficar “achando” é conferir os dados, não é mesmo? Diante da popularidade do PIX, do fato de que ele está realmente na “boca do povo”, sendo bastante demandado nas transações financeiras, esperava-se um percentual mais alto de uso. Mas muitas das pessoas que fazem PIX ainda preferem pagar em dinheiro físico.

A pesquisa mostrou que a crise gerada pelo coronavírus contribuiu para que o dinheiro circulasse ainda mais no Brasil. Em 2020, conforme dados do Banco Central, havia R$212 bilhões em papel-moeda na economia nacional. Em dezembro do mesmo ano, esse valor chegou a R$309 bilhões, principalmente devido ao auxílio emergencial. Entre janeiro e março de 2021, a quantidade de dinheiro desceu para R$280 bilhões. 

Parafraseando as palavras de Fábio Salum, o dinheiro em espécie não “morrerá” tão cedo. Mas é evidente que as barreiras tecnológicas estão diminuindo. A tendência natural é que os meios de pagamento digital superem o físico. 

De qualquer modo, a parte mais velha e mais pobre da população levará um tempo para confiar totalmente nos meios digitais — isso significa que continuará dando prioridade ao dinheiro em espécie, que pode ser apalpado, guardado no bolso e mostra, com mais clareza, as limitações financeiras do consumidor.

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