Bitcoins e outras moedas digitais, pagamentos por aproximação e QR Code, transações digitais... Esse é o cenário econômico da atualidade.
Mas e o dinheiro em espécie? Que função ele desempenha hoje em nossa sociedade? Faremos um apanhado sobre o papel moeda, falando inclusive sobre a evolução do dinheiro, as vantagens do dinheiro tradicional e os meios de pagamento mais usados na atualidade. Confira tudo a seguir!
A evolução do dinheiro
Primeiramente, o dinheiro apareceu na forma de moedas de ouro e prata. Com o tempo, passou a ser cunhado em metais menos nobres, mas mais fáceis de encontrar. A necessidade de guardar as moedas deu origem aos bancos na Idade Média. Os grandes negociantes de ouro e prata, os banqueiros da época, que tinham cofres e soldados a seu serviço, se prontificaram a cuidar do dinheiro dos clientes.
A palavra “bank” deriva do italiano “banco”. Isso mesmo! Estamos falando de bancos de sentar: o banco era um objeto de madeira que os negociantes da Itália atuantes em Londres usavam para realizar negócios na cidade.
Para confirmar a quantia que lhes era entregue pelos clientes, os banqueiros davam recibos em que estava registrado o número de moedas guardadas (por exemplo, 10 moedas de ouro). Os recibos se chamavam, em inglês, “goldsmith’s notes”, ou seja, “notas de ourives”.
Por questões de segurança, as pessoas passaram a dar preferência ao porte desses recibos que ao porte das moedas. E, assim, tornou-se possível fazer o pagamento com esses recibos — e nasceu o dinheiro em espécie.
Resumo da evolução do dinheiro
Podemos, assim, dividir a evolução do dinheiro em:
moedas de ouro e prata;
moedas de metais e ligas menos nobres;
recibos ou notas de ourives lastreadas em ouro (as notas eram trocadas pela quantidade de ouro equivalente);
papel-moeda ou moedas fiduciárias (baseadas na confiança do povo com o governo);
moedas digitais (bitcoin, litecoin, binance coin, ethereum, ripple).
As moedas fiduciárias são qualquer documento ou título que pode ser utilizado como meio de pagamento: Dólar, Euro, Real, Iene, Libra.
Resumo da evolução dos métodos de pagamento
Quanto à evolução das formas de pagamento, podemos falar em:
escambo;
dinheiro (moeda, papel, digital);
cheque, nota promissória, vale;
depósito bancário;
transferência bancária convencional;
cartão de crédito/débito;
transferência PIX;
aplicativos (reúnem diferentes formas de pagamento).
A emissão de papel-moeda
Naturalmente, a impressão só se tornou possível após a invenção da imprensa por Gutenberg no século XV, em torno de 1430. Antes, os recibos tinham confecção manual.
Emissão em larga escala pelos bancos oficiais
A impressão de cédulas em grande escala começou com a oficialização dos bancos. Os primeiros bancos com reconhecimento oficial apareceram respectivamente:
na Suécia, no ano de 1656;
na Inglaterra, em 1694;
na França, em 1700;
no Brasil, em 1808 (durante a estadia da família real portuguesa no Brasil).
Foram os bancos que se responsabilizaram pela emissão de papel-moeda, que era chamada também de “bilhete de banco”.
Regulamentação e controle
A emissão do papel-moeda é regulamentada pelo Estado em qualquer país. A centralização contribui para proteger os interesses monetários das nações e impedir falsificações. O processo de produção das cédulas e das moedas é rigorosamente controlado para que seja possível assegurar integridade máxima.
Porém, com as moedas digitais, a centralização estatal está sendo rompida, ou seja, o Estado não intervém nas transações comerciais.
Fedrigoni, fornecedora de matéria-prima
Boa parte das moedas fiduciárias da América Latina utiliza matéria-prima da Fedrigoni, uma fornecedora sediada na cidade de São Paulo. Ao chegar o papel, a casa da moeda o submete a um processo que contempla muitas medidas para avaliar a durabilidade, além de camadas de tinta.
Vida útil
É importante que a vida útil das cédulas seja alta. Por se tratar de papel, as cédulas podem ser facilmente rasgadas e amassadas, o que acaba comprometendo sua validade.
Em 2000, para comemorar os 500 anos de descobrimento do Brasil, foi criada a nota de R$10,00 em plástico, mais resistente e durável.
Segurança
Entre os elementos de segurança presentes na cédula, estão:
alto relevo;
marca d’água;
micro impressões.
Emissão no Brasil
No Brasil, as primeiras notas foram emitidas pelo Banco do Brasil em 1810. O valor, contudo, era preenchido manualmente, como os cheques de hoje.
A impressão de dinheiro em espécie ocorre na casa da moeda a pedido do Banco Central do Brasil. Esse banco analisa antes de definir qual é a quantidade de cédulas que serão fabricadas. Esse controle é necessário porque muito dinheiro circulando tende a provocar a desvalorização da moeda e o aumento da inflação.
O dinheiro em espécie em nosso país apresenta a efígie da República em um lado e, no outro, animais da fauna nacional:
R$2,00: tartaruga-pente;
R$5,00: garça;
R$10,00: arara;
R$20,00: mico-leão-dourado;
R$50,00: onça-pintada;
R$100,00: peixe garoupa;
R$200,00: lobo-guará.
As moedas, por sua vez, retratam algumas personalidades, como:
R$0,01: Pedro Álvares Cabral;
R$0,05: Tiradentes (José Joaquim da Silva Xavier);
R$0,10: Dom Pedro I;
R$0,25: Marechal Deodoro da Fonseca;
R$0,50: José Maria da Silva Paranhos Júnior (Barão do Rio Branco).
Até 2005, era fabricada a nota de R$1,00, que tinha a imagem do beija-flor. Mas ela foi trocada pela moeda de R$1,00 com a efígie da República.
O rosto da República nas cédulas e moedas brasileiras foi inspirada na imagem da Liberdade, personificada em uma mulher guiando o povo francês, na pintura de Eugène Delacroix. A República está, portanto, associada à Liberdade.
A entrada do papel-moeda na economia
A principal característica do papel-moeda é a ausência de lastro. Nesse sentido, ele não tem rastro em nenhum objeto ou metal (ouro, prata). Não existe nenhum valor intrínseco.
A disseminação do dinheiro em espécie
Cronologicamente, o papel moeda apareceu, pela primeira vez, na China, durante a dinastia Song, entre os anos 960 a 1279. Nos países ocidentais, o primeiro papel-moeda foi projetado por um empreendedor da Estônia, Johan Palmstruch. Ele projetou a moeda em 1661 e, a partir de então, as cédulas penetraram no Ocidente em geral.
As moedas fiduciárias só passaram a se popularizar realmente após a Primeira Guerra Mundial. Atualmente, as três moedas mais poderosas são Dólar, Euro e Iene.
Os pilares do papel-moeda
O valor da moeda fiduciária esta sustentada em três pilares:
autoridade: um dos principais fatores para definir o valor de uma moeda é a autoridade do governo; por isso, apenas o Banco Central do Brasil faz a emissão de dinheiro (a autoridade está centralizada no governo);
utilização: quanto mais pessoas utilizam o dinheiro em papel, o valor aumenta porque fica creditada por várias pessoas e instituições (isso mostra que o uso da moeda ajuda a deixá-la mais forte);
confiança: outro pilar é a confiança das pessoas, que faz com que a moeda fique mais forte; em nosso país, o Banco Central do Brasil se responsabiliza por política monetária e controle da inflação (para que a população permaneça confiante no Real, o Bacen deve conservar a estabilidade da moeda por meio de políticas monetárias).
Em relação ao segundo ponto, temos nele a explicação pela qual o Dólar é uma das moedas mais fortes do mundo, já que ele tem aceitação em diferentes países.
Papel-moeda na economia brasileira
Em nosso país, as moedas de prata e ouro nortearam as transações comerciais até o século XVII. No século XVIII, a utilização das moedas não foi suficiente dada a sua pouca disponibilidade.
Quando a família real aportou no Brasil, a modernização do sistema monetário tornou-se necessária. O então imperador de Portugal, Dom João VI, criou o Banco do Brasil, que se tornou o emissor das cédulas. Era preciso considerar o volume de ouro existente nos cofres públicos para emitir dinheiro em espécie.
Quando D. João VI deixou o país, começou uma crise na economia. Ao retornar a Portugal, o imperador tinha explorado as reservas de ouro que estavam disponíveis em nosso território. Consequentemente, o dinheiro em papel passou por um processo de desvalorização, a inflação aumentou muito, ocorreram várias revoltas que se estenderam pelo Primeiro Reinado e alcançaram o Período Regencial.
No Segundo Reinado, a produção de café melhorou. Por outro lado, os empréstimos internacionais e a exportação no setor do agronegócio levaram a um processo sistemático de desvalorização das cédulas.
Gradualmente, o papel-moeda foi modernizando. No começo, a fabricação era em molde de cartas e o preenchimento era feito à mão. Esse método de preenchimento facilitava as falsificações. Mas, com a modernização, ficou mais difícil recorrer às falsificações — as cédulas passaram a ser impressas e foram recebendo mais e mais detalhes que aumentavam a segurança.
As vantagens do dinheiro em espécie para a economia e a sociedade
Levando em conta a variedade nas formas de pagamento, inclusive as digitais, uma pergunta pertinente é: será que o dinheiro físico ainda oferece vantagens para a economia e para a sociedade? Vejamos:
Poder de negociação
Não importa qual seja o serviço ou o produto, quando o pagamento é feito com dinheiro em espécie, a barganha (pechincha) fica facilitada.
O potencial comprador pode obter descontos mais vantajosos e, assim, economizar um valor relevante de dinheiro.
A empresa que está vendendo não precisa aguardar para que a administradora de cartão repasse o pagamento. Ela recebe o valor completo, não precisa assumir nenhuma taxa de operação. Enfim, o varejista consegue uma margem maior para definir a precificação dos itens e oferecer descontos mais efetivos ao público.
Controle dos gastos
A utilização de dinheiro físico ajuda na manutenção dos gastos. O motivo é óbvio: o consumidor está vendo as cédulas minguarem, saírem de seu poder para a posse de outra pessoa.
Os pagamentos no cartão não oferecem essa vantagem. Os gastos vão se acumulando e quando o consumidor abre os olhos, já está bastante endividado. Isso é uma realidade principalmente quando o titular tem um limite de crédito muito alto.
Por isso, os especialistas em educação financeira costumam recomendar as compras à vista, com dinheiro em espécie. As compras no cartão devem ser mais específicas, envolvendo valores muito altos e quando, realmente, o pagamento à vista com papel-moeda não é possível.
Minimização de imprevistos
Apesar da facilidade proporcionada pelas novas formas de pagamento, o dinheiro físico pode apresentar vantagens em relação a eles.
Considere, por exemplo, um consumidor que encontra uma mercadoria da qual precisa com urgência e considere também que ela está com um preço ótimo. Porém, a maquininha está fora de sistema ou o estabelecimento não aceita essa modalidade de pagamento.
Considere outros exemplos. O cartão de transporte falha em um ônibus, um metrô ou um trem. O cartão de alimentação não funciona no supermercado. Isso pode ocorrer porque estamos lidando com tecnologia e eletrônicos e a ocorrência de problemas técnicos é uma possibilidade.
Nesse caso, o dinheiro vivo certamente é um grande diferencial — é uma forma de pagamento que todo varejista aceita.
Os meios de pagamento mais utilizados atualmente
Certamente, o PIX se tornou muito popular entre os consumidores brasileiros. Mas talvez você não saiba que, mesmo com essa forma prática de pagamento, 53,4% dos brasileiros preferem o pagamento com papel-moeda.
Preferência pelo dinheiro em espécie
Isso foi o que constatou a Fundação Dom Cabral (FDC) em sua pesquisa, na qual contou com ajuda da Brinks, empresa de transporte de valores. A pesquisa envolveu dois mil brasileiros, tendo durado de 20 de julho a 13 de agosto de 2021.
As razões para preferir dinheiro em espécie são:
controle de gastos: 26,0%;
facilidade: 22,4%;
segurança: 11,1%;
não gastar o dinheiro que não têm: 5,3%.
Mas por que citar a segurança e a facilidade como motivos para preferir o pagamento em dinheiro em espécie? Costuma-se afirmar justamente o contrário: é bem mais fácil fazer um PIX e é bem mais seguro usar o ambiente digital que andar com dinheiro pelas ruas.
Conforme explica o professor Fábio Salum, responsável pela pesquisa: “As pessoas têm receio de que o meio de pagamento não funcione por falhas na conexão ou no celular...”. Em boa parte do país, ainda existe internet com infraestrutura precária e nem todas as pessoas podem acessar equipamentos melhores e mais confiáveis.
Pessoas sem conta em banco
Ainda existem muitas pessoas que não têm conta em banco: 38,5%, assim divididas, conforme o sexo:
homens: 33,2%;
mulheres: 43,4%.
Em relação às regiões:
Região Nordeste apresenta o maior percentual de pessoas não-bancarizadas: 47,1%;
Região Sul apresenta o menor percentual de consumidores sem conta em banco: 27,7%.
Preferência por outras formas de pagamento
Veja outras formas de pagamento identificadas na pesquisa:
cartão de crédito: 20%;
cartão de débito: 16,5%;
boleto bancário: 4,6%.
E quanto ao PIX?
A pesquisa revelou que 49,2% já utilizaram, ao menos uma vez, essa inovação. Mas somente 3,5% dão preferência a essa forma de pagamento.
Futuro do dinheiro em espécie
A pesquisa da Fundação Dom Cabral e da Brinks foi mais longe. Procurou saber o que a população pretendia fazer em relação às formas de pagamento, ou seja, analisou o futuro da moeda fiduciária diante da digitalização. Os resultados mostraram que:
44,7% diminuirão seu uso, mas não o abandonarão;
os jovens mostraram uma tendência maior em adotar meios de pagamento diferentes: Geração Z, 43,2%; Geração Y: 27,9% (são os jovens os consumidores que mais utilizam PIX);
a maior parte das pessoas idosas continuarão utilizando o papel-moeda: 81,1%.
Pandemia e papel-moeda
Melhor que ficar “achando” é conferir os dados, não é mesmo? Diante da popularidade do PIX, do fato de que ele está realmente na “boca do povo”, sendo bastante demandado nas transações financeiras, esperava-se um percentual mais alto de uso. Mas muitas das pessoas que fazem PIX ainda preferem pagar em dinheiro físico.
A pesquisa mostrou que a crise gerada pelo coronavírus contribuiu para que o dinheiro circulasse ainda mais no Brasil. Em 2020, conforme dados do Banco Central, havia R$212 bilhões em papel-moeda na economia nacional. Em dezembro do mesmo ano, esse valor chegou a R$309 bilhões, principalmente devido ao auxílio emergencial. Entre janeiro e março de 2021, a quantidade de dinheiro desceu para R$280 bilhões.
Parafraseando as palavras de Fábio Salum, o dinheiro em espécie não “morrerá” tão cedo. Mas é evidente que as barreiras tecnológicas estão diminuindo. A tendência natural é que os meios de pagamento digital superem o físico.
De qualquer modo, a parte mais velha e mais pobre da população levará um tempo para confiar totalmente nos meios digitais — isso significa que continuará dando prioridade ao dinheiro em espécie, que pode ser apalpado, guardado no bolso e mostra, com mais clareza, as limitações financeiras do consumidor.
O que achou do post? Se achou relevantes as informações contidas neste artigo, aproveite e compartilhe nas redes sociais. Assim, outros leitores compreenderão melhor a importância do dinheiro em espécie no nosso cenário moderno!